segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Filosofia 3º ano 2020 - 2ª Atividade do 2º Período

EEM Monsenhor Antônio Feitosa - Missão Velha - CE (20 CREDE)


 Filosofia 3º ano - Capitulo 17 - Pensamento do Século XX, pág. 306 a 322


Atividade Avaliativa (prazo de entrega 31/08/2020)

Obs.: clique sobre o título para acessar.


MAPA MENTAL


Uma era de incertezas...

No Século XIX muitos filósofos estavam confiantes n o poder da razão, entusiasmados com as inovações

tecnológicas, com a expansão industrial, cultural e com a valorização da pátria, mas poucas dessas

convicções permaneceram inalteradas no Século XX, por isso, foi chamado de era de incertezas, que é o

nome do livro do economista canadense John Galbraith que comparou as cert ezas do Séc. XIX com as do

Séc. XX. O incerto passa a ocupar o espirito do mundo contemporâneo, através da ciência.



Uma era de incertezas...

No Século XIX muitos filósofos estavam confiantes n o poder da razão, entusiasmados com as inovações

tecnológicas, com a expansão industrial, cultural e com a valorização da pátria, mas poucas dessas

convicções permaneceram inalteradas no Século XX, por isso, foi chamado de era de incertezas, que é o

nome do livro do economista canadense John Galbraith que comparou as cert ezas do Séc. XIX com as do

Séc. XX. O incerto passa a ocupar o espirito do mundo contemporâneo, através da ciência.

A teoria crítica contra a opressão


Escola de Frankfurt foi uma escola de análise e pensamento filosófico e sociológico que surgiu na Universidade de Frankfurt, situada na Alemanha. Tinha como objetivo estabelecer um novo parâmetro de análise social com base em uma releitura do marxismo.

A teoria estabelecida pelos intelectuais da Escola de Frankfurt é chamada de teoria crítica por dois motivos: primeiro, porque faz uma crítica social do desenvolvimento intelectual da sociedade que incide sobre as teorias iluministas; e, em segundo lugar, porque propõe uma leitura crítica do marxismo, com novas propostas para além dele sem perder de vista os principais ideais da esquerda.


Contexto histórico da Escola de Frankfurt

século XX foi muito turbulento. No início da década de 1920, o mundo já havia presenciado a Primeira Guerra Mundial, e, no fim dessa mesma época, ele presenciou a grande crise econômica de 1929.

Em meio à grande mudança tecnológica, à nova configuração social e às experiências do século XX, os teóricos da Escola de Frankfurt perceberam que os ideais do iluminismo e do positivismo haviam falhado em sua teoria de que o avanço científico aliado à ampliação do conhecimento por meio da escolarização e da disseminação da informação levariam ao avanço moral da sociedade.

Os filósofos do iluminismo francês defenderam que o avanço moral da sociedade se daria com o avanço do conhecimento científico e filosófico e sua disseminação global, com vistas a esclarecer as pessoas sobre as questões relativas ao mundo e à sua organização.

Dentre os teóricos iluministas, podemos destacar Voltaire, defensor das liberdades individuais; Montesquieu, criador da teoria da tripartição do Estado; e Diderot e D’Allambert, fundadores da enciclopédia. Todos eles colocaram-se contra o absolutismo na França e defenderam a popularização do conhecimento para a melhoria da sociedade.

Os positivistas, liderados pelo filósofo francês Auguste Comte, já no século XIX, foram mais radicais. Para eles, o avanço social somente ocorreria pelo investimento na criação e disseminação da ciência e numa rígida reorganização da sociedade, com vistas a colocar o avanço novamente para o povo europeu, em especial o povo francês.


Em geral, os filósofos da Escola de Frankfurt defenderam que as teorias iluminista e positivista não se sustentaram, tendo-se em vista os fenômenos ocorridos no século XX. Em primeiro lugar, os pensadores vivenciaram a primeira grande guerra. Em seguida, eles, que eram judeus, vivenciaram a perseguição nazista contra seu povo. Entre eles, o filósofo e crítico literário Walter Benjamin morreu sob domínio dos nazistas, e os filósofos Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Max Horkheimer tiveram que se refugiar nos Estados Unidos para escaparem da perseguição.

Na reflexão empreendida pelos teóricos da Escola de Frankfurt após a Segunda Guerra Mundial, a barbárie da perseguição nazista e da criação da câmara de gás (uma invenção feita para matar de maneira mais eficaz, com menos gasto) era a maior comprovação de que não havia um progresso, mas sim um regresso social.


No entanto, existem registros mais precisos sobre a história da criação da Escola de Frankfurt. O socialismo estava sendo fortemente debatido na Europa após a Revolução Russa, dividindo os intelectuais quanto à aplicação ou não dos ideais socialistas na política europeia. Uma visão que se sobressaía era a de que o marxismo já não satisfazia as necessidades do século XX, que eram outras e iam além da relação entre trabalhador e burguesia no mundo industrializado.

Nesse sentido, Felix Weil, intelectual judeu argentino radicado na Alemanha, organizou a Primeira Semana de Trabalho Marxista, um evento que reuniu intelectuais marxistas em Frankfurt no ano de 1922. Uma das propostas da semana foi colocada em prática no ano seguinte: a criação do Instituto de Pesquisa Social. O instituto foi patrocinado por Herman Weil, pai de Félix, e subsidiado pelo governo alemão.

No início, o instituto foi gerido pelo sociólogo Kurt Albert Gerlach, que faleceu ainda no primeiro ano de gestão. O instituto ficou vinculado à Universidade de Frankfurt, justificando o título dado ao conjunto de seus pensadores de Escola de Frankfurt, décadas mais tarde. Entre 1923 e 1930, a gestão do instituto ficou a cargo de Karl Grümberg.

Em 1930, foi criado um escritório do instituto em Genebra, que passou a abrigar a sede da instituição após a perseguição e o fechamento da escola pelos nazistas em 1933. Somente em 1950, com a efetiva retomada das atividades do instituto, é que ele passou a chamar-se Escola de Frankfurt.

Veja também: Hannah Arendt – filósofa política que também foi perseguida pelos nazistas

Características da Escola de Frankfurt

Apesar da gama de diferentes pensadores e diferentes gerações formada pela Escola de Frankfurt, o que une a produção intelectual de todos é a teoria crítica. Todos eles se dedicaram a construir teorias críticas contra o capitalismo e a atualizar as leituras sobre o marxismo, criando novas alternativas ao socialismo marxista que se encaixassem no século XX.

O aspecto cultural foi um dos mais debatidos pelos pensadores da instituição. Seria necessário, segundo uma visão geral da teoria crítica, olhar para a cultura a fim de perceber que as bases da sociedade capitalista somente eram tão sólidas por conta da disseminação de uma cultura que favorecia o capitalismo. Nesse sentido, todos os autores da Escola de Frankfurt partiram da leitura marxista, mas atualizaram-na, criando interpretações condizentes com a realidade vivida pelo século XX, que era diferente da enfrentada pelas pessoas no século XIX.

Pensadores da Escola de Frankfurt

Como a Escola de Frankfurt perdura desde a década de 1930, vários pensadores  formaram-se lá e produziram suas teorias com bases parecidas. No entanto, a diferença entre gerações é um traço marcante das teorias produzidas por eles. Por isso, dividimos, a seguir, os pensadores de acordo com as suas gerações, sabendo que existem duas delas notáveis e uma terceira  em curso.

  • Primeira geração: composta pelos filósofos e sociólogos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Otto Kirchheimer, Friedrich Pollock e Leo Löwenthal. Esses pensadores compuseram as primeiras bases do pensamento frankfurtiano e da teoria crítica, além de receberem importantes contribuições de teóricos associados ao Instituto de Pesquisa Social, como Walter Benjamin e Ernst Bloch.
  • Segunda geração: formada pelos filósofos e sociólogos Axel Honneth, Albrecht Wellmer, Jürgen Habermas, Oskar Negt, Franz Neuman e Alfred Schmidt.

Escola de Frankfurt e a indústria cultural

Foi no bojo da Escola de Frankfurt que surgiu o conceito de indústria cultural, mais especificamente no livro Dialética do esclarecimento, escrito pelos filósofos da primeira geração Theodor Adorno e Max Horkheimer. Para eles, uma das maneiras de dominação capitalista se daria pela cultura. Adorno e Horkheimer entenderam que havia dois tipos de cultura autêntica: a cultura erudita e a cultura popular.

cultura erudita é aquela produzida por uma elite intelectual, mais refinada e menos intuitiva. Essa cultura teria um valor estético maior, visto que é mais elaborada. A cultura erudita seria o escape para que a intelectualidade se desenvolvesse plenamente, e, na visão dos autores, ela deveria ser ampliada.

cultura popular é uma forma autêntica de fazer-se arte e cultura vinculadas às culturas tradicionais dos povos. Ela é autêntica, mas composta por menor refinamento técnico e intelectual, sendo mais intuitiva.

Por último, tem-se a cultura de massa. Diferente dos outros dois tipos, esta é inautêntica. Fruto de uma fusão de elementos da cultura erudita e da popular e da possibilidade de alta reprodutibilidade técnica, a cultura de massa seria um recurso capitalista para vender uma forma inferior de arte que, ao mesmo tempo, manteria a população sob controle. A indústria cultural se limitaria a levar o entretenimento como se fosse arte ao consumidor, que se sentiria satisfeito ao  deparar-se com elementos aparentemente agradáveis e de fácil consumo.


Em relação às formas de reprodutibilidade técnica, os teóricos citavam a gravação audiovisual (considerando-se, na época, a gravação de discos, de filmes, de fotografia e de radiodifusão). Nesse sentido, o autor da obra de arte não precisaria criar, a cada performance, uma obra, mas sim reproduzir em larga escala uma obra criada anteriormente.

O filósofo Walter Benjamin declarou ser essa forma de reprodução o fim da aura que conferiria à obra de arte a sua autenticidade. Para aprofundar-se mais nesse conceito tão importante para a Escola de Frankfurt, leia: Indústria cultural.




A aventura e o drama de existir


existencialismo popularizou-se após a Segunda Grande Guerra. É no contexto de uma Paris destruída que essa corrente de pensamento foi associada ao nome de Jean-Paul Sartre. Trata-se de um equívoco, entretanto, assumir que esse pensador é o inaugurador desse novo olhar sobre o mundo e o ser humano.

A fonte de inspiração da existência como problema filosófico encontra-se em Martin Heidegger, que, por sua vez, foi influenciado por Friedrich Nietzsche e Søren Kierkegaard. Embora esses pensadores tenham elaborado explicações distintas, suas reflexões iniciaram-se baseadas no ser humano em sua concretude.

Maurice Merleau-Ponty, por exemplo, enfatizou a centralidade do corpo em Fenomenologia da percepção (1945), sendo sua ausência inconcebível. Nessa obra, as questões foram pensadas com base na vida em seus aspectos concretos, e temas como a angústia, a responsabilidade e a liberdade começaram a ser enfatizados.

Jean-Paul Sartre é um dos nomes mais famosos do existencialismo.
Jean-Paul Sartre é um dos nomes mais famosos do existencialismo.

Características do existencialismo

A base da proposta existencialista é analisar o ser humano em seu todo e não dividido em aspectos internos (sua mente, cognição e sentimentos) e externos (seu corpo, comportamento e ações). Embora tenhamos semelhanças com outros seres e alguns objetos, a consciência que temos das nossas ações e do mundo ao nosso redor é peculiar.

Não poderíamos, assim, tentar entender o ser humano do mesmo modo que compreendemos os demais seres e objetos do mundo. A existência não é algo que se possa meramente classificar ou mensurar, pois é um desdobramento ou acontecimento que não se deixa compreender a não ser sendo um indivíduo.

Encontramo-nos em uma situação na qual o que somos não está predeterminado, mas é antes resultado das nossas ações. Coloca-se em questão, assim, o propósito do ser humano em um mundo que não é como deseja ou tenha escolhido.

Essa situação, que consiste geralmente na percepção de uma limitação, é o que gera o sentimento de ansiedade. As ações passam a ser entendidas como resultados unicamente de escolhas e não como reações ou reflexos das situações nas quais alguém se encontra.

A experiência da ansiedade é um exemplo de como somos conduzidos a refletir sobre nossa existência.
A experiência da ansiedade é um exemplo de como somos conduzidos a refletir sobre nossa existência.

autenticidade é uma noção que encontra reflexos e semelhanças em todos os pensadores da linha existencialista. Ser autêntico seria não se deixar meramente submeter aos valores de uma sociedade e assumir um lugar na dinâmica social. O cotidiano pode ser uma fuga da nossa responsabilidade ao fazermos apenas o que é esperado de nós ou o que nos é solicitado, sem refletirmos seriamente sobre a própria existência.

Longe de recair em libertinagem ou individualismo, autenticidade trata-se da percepção de que o que somos é constantemente modificado pelas nossas escolhas e de que o modo como vivemos é um compromisso assumido diariamente.

"Existir é para nós achar-nos de pronto tendo que realizar a pretensão que somos numa determinada circunstância. Não se nos permite eleger de antemão o mundo ou circunstância em que temos que viver, já que nos encontramos, sem nossa anuência prévia, submersos num contorno, num mundo que é o de aqui e agora. Esse mundo ou circunstância em que me encontro submerso não é somente a paisagem que me rodeia, mas também meu corpo e também minha alma. Eu não sou meu corpo; encontro-me com ele e com ele tenho que viver, seja são seja doente, mas também não sou minha alma: encontro-me com ela e tenho que usar dela para viver, ainda que às vezes me sirva mal porque tem pouca vontade ou nenhuma memória. Corpo e alma são coisas, e eu não sou uma coisa, mas um drama, uma luta para chegar a ser o que tenho que ser." |1|

Principais filósofos

A radicalidade da tomada de consciência de si e do mundo é um dos principais motivos pelo qual o existencialismo continua sendo uma corrente de pensamento relevante e que possibilitou desdobramentos em muitas áreas do conhecimento.

Søren Kierkegaard é apontado por muitos como o primeiro filósofo a colocar o indivíduo como ser singular no centro da reflexão filosófica. Essa temática surge em suas abordagens do conflito entre questões morais e religiosas, nas quais usa frequentemente a figura do personagem bíblico Abraão, indicando limitações nas perspectivas racionalistas em oferecer respostas.

Søren Kierkegaard é visto como o precursor do existencialismo.
Søren Kierkegaard é visto como o precursor do existencialismo.

Martin Heidegger reorientou a visão contemporânea sobre o problema do ser ao propor que a pergunta pelo ser só pode ser colocada por dasein (o “ser-aí”) ou o homem que existe no mundo. Só o ser humano existe efetivamente, uma vez que os demais seres e objetos apenas são. É a investigação sobre essa pergunta que evidencia o caráter existencialista de seu pensamento em Ser e tempo (1927).

Sartre é mundialmente conhecido por sua afirmação de que a existência precede a essência, significando que só se pode entender o ser humano com base em suas ações no mundo. Conhecido por uma conferência intitulada O existencialismo é um humanismo (1946), que continha noções posteriormente revisadas e abandonadas, sua grande obra é O ser e o nada, publicada em 1943.

Apontado pelo próprio Sartre como um existencialista cristão, Gabriel Marcel afirmou que o cotidiano pode afogar o ser humano em uma série de atividades repetidas (funções) que o privam de refletir profundamente sobre a vida. O que nomeou como “mundo quebrado” (le monde cassé) está relacionado à influência que a ciência possui em reduzir nosso pensamento a problemas e soluções, deixando de lado a experiência efetiva das pessoas e o mistério que nos conduz a refletirmos profundamente sobre o ser.

Esse filósofo interpretou várias facetas da relação humana com as noções de “disponibilidade”, uma abertura para o outro e ao mundo, e de “indisponibilidade”, uma sensação de autossuficiência.

Karl Jaspers, outro pensador cristão, expôs grande parte do seu pensamento existencialista nos três volumes da obra Filosofia (1932). Defendeu que não somos um eu predeterminado, e o que podemos tornar-nos seria melhor entendido pelas “situações limite”, isto é, momentos nos quais questionamos nossa vida como um todo, como aqueles em que experimentamos medo, angústia ou pavor. Propôs que sua concepção de “fé filosófica” fosse o caminho para transcender a existência real.

Martin Buber pode ser considerado um pensador muito próximo desse aspecto religioso do existencialismo. Esse pensador judeu refletiu amplamente sobre as relações do ser humano e dos demais seres. Não haveria um eu isolado, já que se realiza no encontro com um outro, uma vez que as demais relações seriam com objetos.

O pensamento existencialista também teve expressão na Espanha, com José Ortega y Gasset e Miguel de Unamuno y Jugo. Este último abordou o conflito entre fé e razão, uma vez que o ser humano almeja a imortalidade, mas essa possibilidade não é confirmada pela razão, o que conduz ao desespero. Já o primeiro, concentrou-se em uma noção ampla de vida, incluindo uma dimensão histórica e outros aspectos circunstanciais e biológicos.

Essa corrente de pensamento alcançou muitos outros países, incluindo a Rússia, com Lev Shestov e Nicolau Berdiaev, e o Brasil, onde muitos pesquisadores apontam Farias Brito como seu precursor.

Leia também: Empirismo - o conhecimento como produto da experiência prática

O existencialismo em outras áreas

A tentativa de analisar a situação do ser humano no mundo em que se encontra também teve ramificações na literatura e nas artes em geral. Elementos do pensamento existencialista são encontrados nas obras de André Malraux e Albert Camus, e muitos consideram Franz Kafka e Fiodor Dostoievski como escritores precursores de noções existencialistas. O existencialismo também influenciou a teologia, em especial, o teólogo Paul Tillich.


Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/existencialismo.htm acesso em 10 de agosto de 2020 às 09:50.




Filosofia analítica: a virada linguística


filosofia analítica é uma vertente do pensamento contemporâneo reivindicada por filósofos bastante diferentes e com duas caracterizações distintas. Originalmente, seu ponto comum foi a ideia de que a filosofia trata-se da análise do significado de enunciados linguísticos; isto é, a filosofia reduz-se a uma pesquisa sobre a linguagem. Desde os anos 1960, acabou a chamada virada linguística, de modo que a filosofia analítica deixou de ter qualquer comprometimento especial com a análise da linguagem. Atualmente, ela é melhor caracterizada por seu espírito científico (em sentido amplo): problemas filosóficos são tratados como questões factuais a serem resolvidas argumentativamente. É muito comum o uso de ferramentas das ciências formais (como matemáticacomputaçãológica) e resultados das ciências naturais (como físicabiologianeurociênciapsicolinguísticaantropologia). A filosofia analítica é amplamente difundida até hoje no mundo anglófono (EUACanadáReino UnidoAustrália) e possui importantes centros de pesquisa na América Latina, na Europa continental, e no resto do globo. Como consequência dessa difusão geográfica e do abandono da perspectiva linguística, a filosofia analítica tornou-se extremamente plural, se afastando muito dos pressupostos linguísticos e positivistas que motivaram sua história inicial.


Na passagem do século XIX para o século XX, a filosofia passou por uma nova e profunda remodelação, a chamada "virada linguística", sob a influência de Frege, Bertrand Russell e Wittgenstein. A atividade filosófica passou a ser considerada basicamente como um método lógico de análise do pensamento. Tal empreitada foi motivada pela hipótese de que a lógica criada nessa época por Gottlob FregeBertrand Russell e outros poderia ter consequências filosóficas gerais e ajudar na análise de conceitos e no esclarecimento das ideias. Um dos mais claros exemplos dessa tendência é a análise de Russell de frases contendo descrições definidas.

Os primeiros filósofos analíticos foram Frege, Russell, George Edward Moore e Ludwig Wittgenstein. Na Inglaterra, com Russell e Moore, opunha-se às escolas procedentes do idealismo alemão, principalmente o hegelianismo, representado sobretudo por J. M. E. McTaggart e F. H. Bradley. O surgimento da filosofia analítica marcou, portanto, uma nova divisão entre modos de se fazer filosofia. Os próprios filósofos analíticos forjaram o termo Filosofia continental para referir-se às várias tradições filosóficas procedentes da Europa Continental, principalmente da Alemanha e da França.

Houve várias correntes no início da filosofia analítica; dentre elas, o positivismo lógico, que se distingue pela rejeição de toda e qualquer metafísica. Neste contexto, convém destacar o Círculo de Viena, de corte neopositivista, fundado por Moritz Schlick e constituído por filósofos e lógicos austríacos e alemãesCarnap, eventualmente Hans Reichenbach e, em seus primeiros tempos, Wittgenstein. Suas teses foram proclamadas num manifesto, Concepção científica do mundo (1929). Com o início da Segunda Guerra Mundial, muitos dos principais componentes do Círculo de Viena tiveram que fugir para os Estados Unidos, e da síntese de sua filosofia – o positivismo lógico – com a cultura americana nasceu uma nova corrente filosófica, o chamado Pragmatismo - ou o "Pragmatismo moderno", uma vez que, como corrente filosófica, o pragmatismo estava há mais tempo enraizado nos Estados Unidos, e precisamente com esse nome, sobretudo nas obras de William James (1842-1910), Charles Sanders Peirce (1839-1914) e John Dewey (1859-1952). Posteriormente, com os autores ligados ao Círculo de Viena e demais positivistas lógicos, será vista como um método de análise do significado das proposições da ciência; ou ainda, para autores como Peter Strawson, será uma tentativa de se descrever alguns dos conceitos fundantes do nosso esquema conceitual. Nascia assim a chamada filosofia da linguagem ordinária.

A filosofia analítica, através de suas sucessivas manifestações, sempre comportou duas correntes: o empirismo lógico e a filosofia da linguagem ordinária. Na primeira geração o empirismo lógico é representado por G. Frege, cuja Begriffschrift (Halle, 1879) constitui a obra fundamental da lógica moderna. Ele leva adiante o projeto leibniziano, que permanecera suspenso, de uma "língua característica". Os Grundgesetze der Arithmetik (Breslau, 1884) proporcionam a primeira definição lógica de número cardinal. No caso da filosofia da linguagem ordinária, H. Sidgwick (1838-1900), em Method of Ethics (1874), representa a resistência da tradição empirista inglesa contra o idealismo neo-hegeliano na Inglaterra. Na segunda geração temos as filosofias de Russell, no caso do empirismo lógico, e George Edward Moore, na filosofia da linguagem ordinária.

A partir de meados do século XX, mais uma vez sob a forte influência de estudos advindos do campo da Lógica – dessa vez especificamente da lógica modal – houve uma retomada, por parte dos filósofos analíticos, de questões metafísicas e epistemológicas, tal como tradicionalmente concebidas. Assim, a partir de alguns escritos seminais de autores como Saul KripkeHilary Putnam e Tyler Burge, passou-se mais uma vez a tematizar assuntos tais como o da relação entre o sujeito e o mundo – ou, mais especificamente, entre o sujeito e seu ambiente físico e social – condições de identidade de objetos através de mundos possíveis, etc. Nascia assim o externalismo.

Atualmente a filosofia analítica é a filosofia dominante nos departamentos universitários de filosofia nos países de anglófonos, bem como nos países escandinavos, em certos países do Leste Europeu, como a Polônia, e também em Israel. Algumas vezes é entendida por oposição à filosofia continental. Entretanto, considerando que algumas de suas raízes estão no continente europeu, e.g., com os trabalhos de Franz Brentano, e alguns dos seus seguidores (e.g. Alexius Meinong), em torno do conceito de intencionalidade, talvez a alegada oposição seja apenas aparente.

Além da referência original à lógica contemporânea, não há ideia unificadora ou dogma característico da filosofia analítica:

  • A epistemologia e a lógica de Frege opunham-se sobretudo ao empirismo. Todavia, muitos filósofos analíticos posteriores, notadamente os positivistas lógicos e Quine, defenderam posições empiristas e rejeitaram o racionalismo de Frege. Filósofos analíticos mais recentes, como Tyler Burge, rejeitam o empirismo e defendem o racionalismo.
  • Em lógica, Frege se opôs ao "psicologismo" de John Stuart Mill. Algumas ideias atribuídas a Mill - e.g., que nomes próprios não têm o que chama de conotação - voltaram a circular entre os filósofos analíticos. Saul Kripke, por exemplo, defende uma teoria milliana dos nomes próprios, contra o alegado descritivismo do que chama "a concepção de Frege-Russell".)
  • Russell, entre outros, defendeu posições realistas. Já seu primeiro aluno e depois colega Wittgenstein parece ter sido, ao menos por algum tempo, um anti-realista.
  • O Círculo de Viena e a filosofia da linguagem ordinária se opunham a toda e qualquer metafísica. Hoje a metafísica floresce na filosofia analítica.

Até o início da década de 1950, o positivismo lógico era o principal movimento dentro da filosofia analítica. No entanto, o movimento sofreu um golpe mortal em 1951, quando Quine publicou "Dois Dogmas do Empirismo". Foi o fim do positivismo lógico. Depois disso a filosofia analítica desenvolveu-se em diversas direções. A ciência cognitiva e a filosofia da mente tomaram o lugar da lógica e da filosofia da linguagem. Há uma metafísica e mesmo uma teologia analítica. Há uma filosofia política (John Rawls e Robert Nozick) e diversos estudos sobre ética.









 


Filosofia pós-moderna: o fim do projeto de modernidade

A pós-modernidade é uma condição ou estado de ser associada a mudanças em instituições e criações[13] e a resultados e inovações sociais e políticas, globalmente, mas principalmente no Ocidente desde a década de 1950, enquanto o pós-modernismo refere-se principalmente a uma filosofia estética, literária, política ou social, o "fenômeno cultural e intelectual",[14] imerso na condição histórica da pós-modernidade, especialmente desde os novos movimentos da década de 1920 nas artes. Ambos os termos são usados por filósofos, cientistas sociais e críticos sociais para se referir a aspectos da cultura contemporânea, economia e sociedade que são o resultado de características da vida do final do século XX e início do século XXI, incluindo a fragmentação da autoridade e a comoditização do conhecimento (veja "Modernidade").

O relacionamento entre a pós-modernidade e a Teoria Crítica, a sociologia e a filosofia é ferozmente contestado, e os termos "pós-modernidade" e "pós-modernismo" são utilizados por alguns escritores de forma confusa e difíceis de distinguir, sendo o primeiro muitas vezes o resultado do posterior. O período tem tido diversas ramificações políticas: suas "ideias anti-ideológicas" parecem ter sido positivamente associadas com o movimento feminista, aos movimentos de igualdade racial e a favor dos direitos dos homossexuais, a maioria das formas do anarquismo do final do século XX, de movimentos pacifistas e vários híbridos destes com os atuais movimentos antiglobalização. Apesar de nenhuma dessas instituições abarcarem inteiramente todos aspectos do Movimento Pós-Moderno, todos eles refletiram ou pegaram emprestado alguma de suas ideias mais centrais.


Alguns autores, assim como Lyotard e Baudrillard, acreditam que a modernidade terminou no final do século XX e apesar de ter definido um período subsequente a modernidade, nomeado pós-modernidade, enquanto outros, tais como Bauman e Giddens, estenderiam a modernidade para cobrir o desenvolvimentos denotados pela pós-modernidade, outros ainda afirmam que a modernidade terminou com a Era Vitoriana em 1900.[15]

A pós-modernidade tem passado por duas fases relativamente distintas: a primeira começando em 1950 e terminando com a Guerra Fria (quando a mídia analógica com a banda limitada era monopolizada por grupos estatais de mídia autoritários) e a segunda começou no início do fim da Guerra Fria (marcado pela popularização da televisão à cabo e a "nova mídia" baseada em significados digitais de disseminação de informação e transmissão).

A segunda fase da pós-modernidade é definida pela "digitalidade" - o aumento do poder individual e a descentralização digital através dos meios de comunicação (máquinas de fax, modems, cabo e internet de alta velocidade) que alteraram a condição da pós-modernidade dramaticamente: produção digital de informação passa a permitir que indivíduos selecionem e manipulem virtualmente todo aspecto do ambiente da mídia. Isso tem levado produtores e consumidores a conflitos relacionados ao capital intelectual e vem permitindo a criação de uma nova economia defendida como sendo capaz de alterar fundamentalmente a sociedade devido à queda drástica dos custos gerados pela criação da informação.

Começou-se a discutir que a digitalidade ou o que Esther Dyson referiu-se ser como "ser digital" tem emergido como uma condição separada da pós-modernidade. Aqueles mantendo essa posição discutem que a habilidade de manipular itens da cultura popular, a World Wide Web (www), o uso de engenharias de busca para indexar conhecimento e telecomunicações foram produzindo uma "convergência" na qual seria marcada pelo surgimento da "cultura participatória" nas palavras de Henry Jenkins e o uso de aparelhos de mídia, tais como iPods da Apple.

A mais simples demarcação do ponto dessa era é o colapso da união Soviética e a liberalização da China comunista em 1991. Francis Fukuyama escreveu "The End Of History" em 1989 na antecipação da queda do Muro de Berlim. Ele previu que a questão político-filosófica tinha sido respondida, que guerras em larga escala sobre valores fundamentais não mais poderiam se erguer desde que "todas as contradições antes são resolvidas e todas as necessidades humanas satisfeitas". Isso é um tipo de "finitismo" também assumiu Arthur Danto, quem em 1984 aclamou que as caixas de Brillo de Andy Warhol exigiu a questão certa de arte e portanto a arte tinha terminado.


Em A Identidade cultural na Pós-Modernidade (2003), Stuart Hall busca avaliar se estaria ocorrendo uma crise com a identidade cultural, em que consistiria tal crise e qual seria a direção da mesma na pós-modernidade. Para efetivar tal intento, analisa o processo de fragmentação do indivíduo moderno enfatizando o surgimento de novas identidades, sujeitas agora ao plano da história, da política, da representação e da diferença. A preocupação de Hall também se volta para o modo como haveria se alterado a percepção de como seria concebida a identidade cultural.

Todos esses aspectos constituem-se como fases de um procedimento analítico que intenta descrever o processo de deslocamento das estruturas tradicionais ocorrido nas sociedades modernas e pós-modernas, assim como o descentramento dos quadros de referências que ligavam o indivíduo ao seu mundo social e cultural. Tais mudanças teriam sido ocasionadas, na contemporaneidade, principalmente, pelo processo de globalização.

A globalização alteraria as noções de tempo e de espaço, desalojaria o sistema social e as estruturas fixas e possibilitaria o surgimento de uma pluralização dos centros de exercício do poder. Quanto ao descentramento dos sistemas de referências, Hall considera seus efeitos nas identidades modernas, enfatizando as identidades nacionais, observando o que gerou, quais as formas e quais as consequências da crise dos paradigmas do final do século XX.

Desde a década de 1980, desenvolve-se um processo de construção de uma cultura em nível global. Não apenas a cultura de massa, já desenvolvida e consolidada desde meados do século XX, mas um verdadeiro sistema-mundo cultural que acompanha o sistema-mundo político-econômico resultante da globalização.

A Pós-Modernidade, que é o aspecto cultural da sociedade pós-industrial, inscreve-se neste contexto como conjunto de valores que norteiam a produção cultural subsequente. Entre estes, a multiplicidade, a fragmentação, a desreferencialização e a entropia - que, com a aceitação de todos os estilos e estéticas, pretende a inclusão de todas as culturas como mercados consumidores. No modelo pós-industrial de produção, que privilegia serviços e informação sobre a produção material, a Comunicação e a Indústria Cultural ganham papéis fundamentais na difusão de valores e ideias do novo sistema.


As condições associadas à Pós-Modernidade são variadas e podem ser agrupadas em 5 categorias diferentes: Hiperrealidade, Fragmentação, Reversão de consumo e produção, Descentralização do sujeito e Justaposição paradoxal:[16]

Hiperrealidade

Esta categoria resume-se essencialmente em tornar real algo em que certa altura fora impossível ou simulação ou, efetivamente, apenas uma hipótese. Para Baudrillard, as simulações não passam de representações de situações imaginárias ou, em alguns casos, de situações imaginárias do passado. Através de diferentes tipos de comunicação, os significados atribuídos podem ser destacados do conceito original e outros novos significados podem ser atribuídos. Um grande exemplo poderá ser uma simples pasta de dentes. Tirando o significado associado à mesma (pasta que serve para escovar os dentes), este termo pode adquirir outro novo significado simbólico como beleza, felicidade, atração, etc. Estes novos significados podem simular uma nova realidade através do poder da comunicação e são aceites como verdade. Na verdade, a comunidade consumista torna-se crente porque acaba por aceitar estes novos significados como verdadeiros,  uma vez que ao utilizar a pasta dos dentes este sentir-se-á atrativo, bonito, feliz, etc. O fenómeno do marketing é imediatamente reconhecível nesta condição. Efetivamente, o marketing dá novo significado a um termo, palavra e marca, substituindo o pré existente.

Fragmentação

Esta categoria implica que em cada instante em que haja consumo, o consumidor compromete-se a fazer diferentes atos simultaneamente com diferentes propósitos. Um grande exemplo será a mulher que é vista como mãe, funcionária exemplar, uma parceira ideal para o cônjuge e uma excelente cozinheira. Cada um destes papéis representa uma diferente imagem, que requer diferentes personalidades e que são visíveis, geralmente, apenas numa só mulher. Outra exemplo, muitas vezes associado a esta condição são alguns centros comerciais. Estes optam, para além consumo associado a estes estabelecimentos, por outros tipos de entretenimento (outras atividades de marketing). Nordstrom’s trata-se de um centro comercial onde é possível comprar o que este oferece e, simultaneamente, estar na presença de um concerto ao vivo. O consumidor pode aqui experienciar diferentes experiências fragmentadas.

Além disso, a fragmentação transformou, sem sombra de dúvida, a habilidade para ler e descobrir conexões entre diferentes objetos na era Pós-modernista. Os slogans “Just do it”, “Heartbeat of America” e “Leva a amizade a sério” são associados imediatamente ao objeto em questão. A habilidade para associar imagens e associar significados é, efetivamente, o coração da cultura do marketing.

Reversão de consumo e produção

Um dos maiores mitos da era Modernista baseava-se essencialmente no papel antagonista da produção e do consumo. O valor era criado na produção e destruído no consumo. Na era da Pós-Modernidade, o consumo deixa de ser considerado profano e destrutivo e a produção deixa de ser definida como sagrada e valiosa. O consumo tem deixado de ser associado ao profano, a algo que não deve ser falado. Começa, efetivamente, a ser aceite. Este passa também a ser reforçado pelo marketing através de um processo no qual os indivíduos se definem a si próprios e definem o seu modo de vida na sociedade contemporânea. Efetivamente, as escolhas que o consumidor faz são determinadas pelas diferentes experiências obtidas por cada sujeito. Na produção, os produtores são os humanos e os produtos são as comodidades (objetos, alimentos, serviços, etc). No consumo, os produtores geralmente são as imagens (representadas nos produtos, comodidades, alimentos, etc) e os produtos são os humanos. Na era Pós-Modernista há, indubitavelmente, uma reversão da produção e do consumo.

Descentralização do sujeito

Na era Modernista, o humano era visto como o centro com habilidade para atuar independente e autonomamente na escolha e em alcançar os seus objetivos. Para os pós-modernistas, existe uma confusão entre o sujeito e o objeto, não se sabendo bem qual deles está, de facto, em controlo. Por exemplo, o sujeito segue as instruções do manual para usar o microondas ou máquina de lavar. As suas ações são determinadas pelas propriedades e estruturas dos produtos. Na verdade, o papel do ser humano passa apenas por permitir que os produtos efetuem as suas funções. A confusão existente é também aumentada pelo simples facto de o sujeito se considerar um item do marketing e ter tendência para ser representado como uma imagem. Isto é visível no aumento da procura da cirurgias plásticas para corresponder às expetativas culturais. Assim sendo, a moda torna-se a metáfora da cultura.

Justaposição paradoxal

Esta condição permite a justaposição de alguma coisa com outra, por mais contraditória que possa ser (exibir emoções opostas, por exemplo). Está presente quer a nível literário ou até mesmo na arte. A nível da comunicação social, esta condição está bastante patente. Um exemplo será um anúncio que é, simultaneamente, ironizado mas ao mesmo tempo promovido ou então um anúncio que ganha credibilidade através da negação da mesma. Outro exemplo comum são os restaurantes étnicos. Estes podem ser divididos em dois tipos: aqueles que servem imigrantes e aqueles que transformam as suas cozinhas para cativar os consumidores mais refinados. Os que optam pelo segundo tipo de restaurantes sabem que, efetivamente, as cozinhas foram modificadas para agradar os seus palatos, mas ao experienciarem a comida deste tipo de restaurantes, defendem a ideia que estão a vivenciar outra cultura étnica. Wilson defende a ideia que o Pós-Modernismo jamais recusa privilegiar apenas uma só perspetiva, mas sim reconhecer apenas diferenças, nunca desigualdade, reconhecer fragmentos e nunca conflito. 


O filósofo Ernest Gellner debateu-se com o fenómeno do pós-modernismo, que ele viu como uma das principais orientações em debate na actualidade, no nível das grandes ideias, as outras sendo:

Em "Pós-modernismo, razão e religião", de 1992Gellner refere-se ao pós-modernismo da seguinte forma:

"O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente...
A influência do movimento pode ser discernida na Antropologia, nos estudos literários, filosofia...
As noções de que tudo é um "texto", que o material básico de textos, sociedades e quase tudo é significado, que significados estão aí para serem descodificados ou "desconstruídos", que a noção de realidade objectiva é suspeita - tudo isto parece ser parte da atmosfera, ou nevoeiro, no qual o pós-modernismo floresce, ou que o pós-modernismo ajuda a espalhar.
O pós-modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objectiva, externa ou transcendente. A verdade é ilusiva, polimorfa, íntima, subjectiva ... e provavelmente algumas outras coisas também. Simples é que ela não é...
Tudo é significado e significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta. Qualquer coisa que seja, é feita pelo significado conferido a ela...".

Obviamente, esta nova "moda" não é compatível com o Positivismo, que Gellner define como: "...a crença na existência e disponibilidade de factos objectivos, e sobretudo da possibilidade de explicar os ditos factos por meio de uma teoria objectiva e testável, ela própria não essencialmente ligada a nenhuma cultura particular, observador ou estado de espírito".

José Guilherme Merquior viu nesta confrontação uma repetição da batalha entre o classicismo e o romantismo - o primeiro, associado com a dominação pela Europa por uma corte francesa e suas maneiras e padrões; o último, com a reacção pelas outras nações, afirmando os valores das suas próprias culturas populares.

Todavia, Gellner aponta uma diferença:

"Mas os românticos escreveram poesia. Os pós-modernos também se entregam ao subjectivismo, mas o seu repúdio por disciplina formal, a sua expressão de profunda turbulência interna, é expressa em prosa académica, destinada à publicação em distintos jornais, um meio de assegurar a promoção ao impressionar os comités apropriados. Sturm und Drang und Cargo pode muito bem ser o seu slogan.".

Etapas históricas a caminho do pós-modernismo[editar | editar código-fonte]

Gellner vê duas ou três grandes etapas na evolução do tipo de pensamento que culminaria no Pós-Modernismo. Para compreender o Pós-Modernismo há que compreender a evolução do marxismo.

  1. Marxismo teórico
  2. Marxismo na prática, tal como este foi vivido na União Soviética.
  3. Escola de Frankfurt

No fundo, as linhas da árvore genealógica do Pós-Modernismo são traçadas ao longo da evolução do Marxismo, da teoria para a sua aplicação prática (e os sinais do seu fracasso). Comecemos pela raiz.

Marxismo[editar | editar código-fonte]

Segundo alguns estudiosos, o pós-modernismo teria origem no marxismo. Trata-se de uma posição polêmica, já que o marxismo é uma filosofia materialista segundo a qual as forças de produção são determinantes das estructuras sociais. Ainda por cima, o marxismo afirmava-se científico enquanto os intelectuais pós-modernos colocam em questão precisamente a possibilidade de se chegar a uma visão única.

"Mas isso foi há muito tempo, numa madrugada em que era uma glória bem-aventurada permanecer-se vivo, e muita água passou pela ponte desde então. A qualidade exclusiva-absolutista da "revelação" marxista e a forma pela qual ela foi apresentada e perpetuada significavam que os Marxistas sempre tiveram dificuldade em creditar de boa fé aqueles que não aceitavam a sua visão. Mais ainda, a sua própria teoria requeria-os a explicar aqueles dissidentes sociologicamente. O erro não era aleatório mas uma função da (posição na) sociedade: a especificação da sua função não apenas identificava e desmascarava o herético, mas também iluminava a cena social. As visões erróneas do inimigo desmascaravam a sua posição, os males sociais que ele se preocupava em defender, e os meios a ele disponíveis no seu intento nefasto. A denúncia e o desmascarar (desse inimigo) eram uma forma de educação, bem como um prazer. O marxista rapidamente adquiriu um grande gosto e perícia em tais explicações redutivas, e a explicação de opiniões críticas (ao marxismo) em termos de pertença de classe e interesse dos críticos tornou-se um estilo literário bem estabelecido, com os seus cânones, os seus clássicos, os seus procedimentos habituais".

O Marxismo real-existente[editar | editar código-fonte]

"Com a passagem do tempo, e especialmente após o estabelecimento da União Soviética, a quantidade de criticismo hostil que necessitava de ser explicado cresceu a um novo ritmo e a proporção do Marxismo que consistia nas explicações denunciando os críticos do Marxismo aumentou correspondentemente. O marxismo quase se tornou uma espécie de tema especial cuja ocupação era a desilusão das construções-de-mundo dos outros".

No entanto, nesta fase, os marxistas acreditam ainda numa verdade única, que eles próprios detinham, como é óbvio. Os críticos falhavam em alcançá-la, por culpa própria.

A escola de Frankfurt[editar | editar código-fonte]

Com o fim do Estalinismo, as reformas de Khrushchov e a crescente dúvida no empreendimento comunista, o panorama tinha evoluído num sentido ainda mais radical (e absurdo, para alguns).

"Toda esta tendência foi desenvolvida ainda mais por um movimento influente que já não se encontrava ligado ao comunismo internacional e desde logo se encontrava livre da obrigação da defesa do balanço do marxismo aplicado na prática - o movimento filosófico conhecido como a Escola de Frankfurt e a sua chamada Teoria Crítica. Este facto foi típico da libertação da "intelligentsia" esquerdista internacional da autoridade e disciplina do partido comunista, que se seguiu às revelações de Khrushchov no Vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Ele forneceu muito da ideologia para o protesto estudantil dos anos 60 do século XX, que era crítico de ambos os lados dominantes na cena internacional.
A escola de Frankfurt tinha muitos traços em comum com os marxistas do partido, dado que explicava ao lado das visões dos seus opositores; mas havia uma diferença interessante. Os marxistas da velha guarda não se opunham à noção de objectividade como tal, eles apenas argumentavam que os seus oponentes tinham falhado em serem genuinamente objectivos, e meramente tinham fingido observar as normas da objectividade científica, quando na verdade serviam e eram guiados pelos seus interesses de classe. Mas a verdadeira ciência permanecia (para os Marxistas) e era contrastada pela falsa consciência, inspirada por interesses de classe".
...A objectividade real requeria acima de tudo um saudável posicionamento de classe e político. Era muito fácil deslizar disto para a visão de que uma posição saudável é suficiente em si mesmo e finalmente a visão de que não há visões objectivas saudáveis de todo. A verdadeira ilusão era a crença na possibilidade de verdade única, objectiva. O pensamento vive sob significados, significados são específicos da cultura. Ergo, vida é subjectividade.
Um verdadeiro, esclarecido pensador crítico (à la Frankfurt) não desperdiçava muito tempo, ou provavelmente não desperdiçava tempo nenhum em descobrir precisamente aquilo que era, ele ia directamente à substância escondida sob a superfície, as profundas características que explicavam porque é que o que era, era, e também à igualmente profunda iluminação quanto a o que deveria ser. Liberto do culto positivista do que é, cuja investigação seria apenas uma ratificação camuflada do statu quo, um espírito livre genuinamente crítico encontra-se na bela posição de determinar precisamente aquilo que deveria ser, em oposição dialéctica ao que meramente é.
Acabaram-se os dias em que um "positivista" era alguém que invoca factos contra o Marxismo. Agora, o positivista é alguém que faz uso de quaisquer factos de todo, ou permite a sua existência, qualquer que seja o seu objectivo".
"Os pós-modernistas deram um passo mais. Tal como os frankfurtianos, eles repudiam o culto e busca de factos externos, que tinham sido o caminho (supostamente errado) da percepção da realidade social, mas os pós-modernos não substituem esse caminho por um outro alternativo (obscuramente especificado pelos frankfurtianos), e sim pela afirmação de que nenhum tal caminho é possível, necessário ou desejável. Não é a objectividade superficial que é repudiada, mas a objectividade como tal".



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